INJUSTIÇADOS
Considerados traidores do movimento revolucionário, Márcio Toledo, Carlos Alberto Cardoso, Francisco Alvarenga e Salatiel Rolim foram condenados à morte e executados sumariamente por seus próprios companheiros de luta armada durante a ditadura. A arbitrariedade desses atos produziu também o apagamento completo de seus nomes da memória oficial do país. Injustiçados é a sua história.
Com base em entrevistas com ex-guerrilheiros, familiares das vítimas e militares, além de farta documentação, Lucas Ferraz revela aqui uma face encoberta e pouco conhecida dos anos de chumbo do Brasil: os justiçamentos ocorridos dentro dos grupos de luta armada. Num momento de recrudescimento do autoritarismo no país, o trabalho de Ferraz contribui para o aprofundamento da discussão sobre um período de grande complexidade e que segue como emblema sombrio da dificuldade que o Brasil tem em lidar com o passado.
Injustiçados trata de um assunto tabu que passou as últimas décadas no limbo da história brasileira: as execuções que ocorreram dentro dos grupos de luta armada durante a ditadura civil-militar.
Tendo como fio condutor os casos de quatro militantes injustamente considerados traidores do movimento revolucionário, o jornalista Lucas Ferraz faz um corajoso e pungente relato de um tema sensível que até hoje é motivo de disputa e silenciamento. Se, de um lado, os ex-guerrilheiros evitam falar a respeito ou consideram que os justiçamentos foram atos de justiça revolucionária, de outro, os defensores do regime militar usam essas execuções para acusar seus inimigos de assassinos frios e cruéis, exagerando seus feitos para justificar os crimes bárbaros da ditadura.
Iniciada em 2007 com a abertura de novos arquivos da repressão, a pesquisa de Ferraz ganhou impulso nos anos seguintes a partir de entrevistas com um dos personagens mais notórios da época, o agente duplo Cabo Anselmo. Em mais de dez anos de trabalho, o autor recolheu depoimentos de militantes, familiares das vítimas e militares do aparato repressivo, documentos e cartas de guerrilheiros e das Forças Armadas, além de investigações do Estado e da sociedade civil realizadas nas últimas décadas.
O objetivo do livro, contudo, não é recontar o percurso da ditadura iniciada em 1964 ou da resistência armada que a desafiou, mas narrar os justiçamentos cometidos dentro da guerrilha entre 1971 e 73 e seu contexto — as infiltrações dos serviços secretos do regime, a disparidade de força e poder entre a repressão e a guerrilha, seus personagens-chave. Mais importante, recuperar a história e o nome das vítimas: Márcio Leite de Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de Alvarenga e Salatiel Teixeira Rolim. Julgados à revelia, condenados à morte e assassinados pelos próprios companheiros, eles ganham aqui finalmente uma memória histórica.