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Fissuras no Vaticano

Valor Econômico, 22 de março de 2019

LUCAS FERRAZ

FOTO VATICAN NEWS



Sentado em uma confortável poltrona na antessala de seu gabinete, em um dos prédios da Cidade do Vaticano, o uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour mede cuidadosamente cada uma de suas palavras: "O Diabo, o príncipe da divisão, utiliza de outros pobres diabos para dividir e confundir a igreja. E de que modo? Atacando o papa, que é o princípio fundamental da unidade da igreja. Temos muitos pobres diabos, controlados por alguém mais importante, que tentam contrapor Bento XVI a Francisco. E não logram êxito".

Lecour nada mais falou a respeito. Nem mesmo mencionou os nomes daqueles que, dentro e fora do Vaticano, fazem oposição aberta ao pontífice. Em Roma há 47 anos, o advogado montevideano é um ilustrado, e às vezes empolado, acadêmico de 74 anos, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, um dos laicos de maior ascendência na hierarquia da Igreja Católica. Ele já serviu a sete papas, mas não esconde a alegria de ser um dos conselheiros do argentino Jorge Mario Bergoglio, o primeiro latino-americano da história (e do hemisfério Sul), de quem é amigo há mais de 30 anos.

Francisco enfrenta muitos demônios nos seus seis anos de pontificado, completados no mês passado. Os mais conhecidos, e que o importunam há mais tempo, são os opositores internos que atacam sua agenda reformista. O objetivo do argentino de aproximar a igreja da vida dos fiéis, mudando a velha imagem da pirâmide autoritária e hierárquica, implica enfrentar tabus como os abusos sexuais e a relação da igreja com gays e divorciados.

Voz dissonante da onda conservadora em ascensão no mundo, o Santo Padre também se transformou em alvo dos políticos populistas de direita. Desde os anos 80, quando João Paulo II ajudou a pôr fim à Guerra Fria, que o Vaticano não tinha tanto protagonismo na geopolítica mundial. A acusação de ação política e de comunismo não é exclusividade dos adeptos do bolsonarismo, repetindo-se nos círculos da extrema-direita europeia e nos Estados Unidos.

Poucos dias depois de o conselheiro uruguaio receber o Valor no prédio número 1 da via della Conciliazione, que leva à basílica de São Pedro, em Roma, símbolo maior do catolicismo, Francisco usou numa audiência na cidade a mesma palavra - "diabo", já empregada por ele em outras situações - para criticar os que passam a vida "acusando a igreja". "Aquele que na Bíblia aparece como grande acusador, quem é? É o diabo. E os que passam a vida acusando, acusando, não direi que são filhos, porque o diabo não tem nenhum, mas sim amigos, primos, parentes do diabo." A declaração, na véspera da abertura de uma histórica conferência convocada pelo pontífice para discutir os casos de abusos sexuais na igreja, era uma resposta aos ataques para deslegitimá-lo.

Há pelo menos três anos que o argentino passou a ser questionando publicamente pelos subordinados conservadores, um ineditismo na engessada estrutura católica. Embora involuntariamente, seu principal antagonista na disputa interna é justamente o antecessor, o papa emérito Joseph Ratzinger. O alemão é uma espécie de ícone para o grupo opositor, uma rede formada por religiosos de vários países, cerca de 30% da igreja, segundo Marco Politi, especialista italiano que acompanha o Vaticano desde os anos 70 e autor, ao lado do jornalista americano Carl Bernstein, de uma biografia de João Paulo II.





Sisudo e apegado aos dogmas clássicos do catolicismo, Bento XVI comandou o Vaticano entre 2005 e 2013, quando renunciou. Defendia que fiéis recebessem as hóstias diretamente na boca, não nas mãos, e que a comunhão fosse feita sempre de joelhos. Sem o carisma de Bergoglio, o alemão Ratzinger teve um pontificado apagado (num momento em que o pêndulo da política mundial estava em outra direção) e acabou tachado de conservador.


Francisco, por outro lado, tem se ocupado cada vez mais dos assuntos que agitam a agenda internacional, como imigração, problemas ambientais, desigualdades sociais e econômicas, ascensão do nacionalismo e do ódio e crises políticas como a da Venezuela. É natural, ressaltam os aliados, que o Santo Padre atice tantos demônios.


Na fogueira das vaidades do Vaticano, o antagonismo entre Francisco e Bento XVI é alimentado por outro ineditismo: é a primeira vez, nos tempos modernos, que Roma tem dois papas. Na Antiguidade, os pontífices muitas vezes eram presos ou obrigados a renunciar após uma luta escancarada pelo poder, quando havia a figura do antipapa. Ao anunciar sua renúncia em fevereiro de 2013 por não ter mais "condições físicas e espirituais" para liderar a igreja, o próprio Ratzinger se autonomeou papa emérito, outra novidade.

"Isso faz pensar que existem dois papas, mas o papado é ligado a uma pessoa, não é um poder que pode ser dividido", afirma Andrea Tornielli, veterano jornalista na cobertura do Vaticano que assumiu em dezembro a direção editorial do dicastério (similar a um ministério) da Comunicação do Vaticano. "Foi uma decisão revolucionária. Como as pessoas estão vivendo mais, é possível que a igreja enfrente outros problemas do gênero no futuro. O título de papa emérito ainda não foi oficializado no código canônico", ressalta.

Aos 82 anos, Francisco já declarou que fará o mesmo que o antecessor, ou seja, renunciará caso sinta não ter mais condições "físicas e espirituais" de seguir no cargo. João Paulo II, ao contrário, enfrentou um martírio nos anos finais - padecendo de Parkinson, o polonês responsável pelo terceiro papado mais longo da história (26 anos), morreu em abril de 2005, aos 84 anos.


A renúncia de Bento XVI mudou a imagem do papa, segundo os especialistas entrevistados pelo Valor. A aposentadoria de Ratzinger pôs fim à desmistificação e dessacralização da imagem do Santo Padre.

Sem precedentes, também, são os ataques contra Francisco. Um dos mais fortes foi desferido no ano passado por um arcebispo italiano após uma das tantas denúncias de abuso sexual que agitam a Santa Sé. Carlo Maria Viganò, ex-núncio apostólico (embaixador) nos Estados Unidos afastado por malversação de fundos, divulgou um dossiê em que dizia ter alertado o papa sobre as condutas do cardeal americano Theodore McCarrick, expulso da igreja somente no mês passado por abusar de menores seminaristas. Viganò acusava Francisco de omissão. Encerrou o texto pedindo a sua renúncia.


Bergoglio nunca respondeu às acusações. Após a divulgação do documento, ao ser interpelado por repórteres, respondeu: "Acredito que o comunicado fala por si mesmo e acho que vocês, jornalistas, são inteligentes o suficiente para tirar suas próprias conclusões".


Outro protagonista da oposição é o cardeal alemão Gerhard Müller, nomeado por Ratzinger em 2012 para chefiar a Congregação da Doutrina da Fé, um dos órgãos mais importantes da estrutura eclesiástica. Ele foi demitido em 2017 após mostrar publicamente sua contrariedade com as reformas de Francisco. No início de fevereiro, sem mencionar o papa, Müller voltou a criticar o que considera erros na atual doutrina católica. O texto foi divulgado por um dos principais canais críticos ao papa, o site Life Site (www.lifesitenews.com), de conservadores dos EUA, o mesmo que veiculou o dossiê de Viganò.

O descontentamento da ala conservadora com Bergoglio foi escancarado após a apresentação, em 2016, do documento "Amoris Laetitia", de autoria do papa. Em uma pequena nota incluída no texto, ele sinalizava para a possibilidade de divorciados participarem da comunhão. À época, quatro cardeais escreveram uma carta a Francisco com várias dúvidas sobre a doutrinação. Na prática, era um questionamento direto à sua mensagem, outra das tantas novidades no pontificado do argentino: nunca antes cardeais questionaram publicamente uma diretriz do pontífice, acusando-o de desvirtuamento da tradição católica.

Dois desses cardeais continuam a atuar na cruzada contra Francisco - os últimos ataques ocorreram na véspera da conferência sobre abusos sexuais, no mês passado. Eles culparam a "praga da agenda homossexual" que se espalhou na igreja pelo aumento dos casos de violência sexual. O argentino já declarou que jamais poderia julgar os gays, ressaltando que eles têm valores e qualidades que deveriam ser absolvidas pelo cristãos.


Considerado o 11 de Setembro da Igreja Católica, o abuso sexual divide parte da igreja pela maneira de enfrentá-lo - há, segundo Marco Politi, uma ala que discorda da política de enfrentamento de Francisco. Bento XVI foi o primeiro a atuar para se investigar as denúncias contra padres, arcebispos e cardeais, embora em outro tempo.

A expulsão do cardeal McCarrick foi um dos atos anunciados por Francisco no evento que reuniu 190 líderes católicos de todo o mundo em Roma, no fim do mês, para ouvir relatos de algumas das vítimas e discutir respostas. Muitos viram o evento como o ato mais importante da Igreja Católica desde o rompimento de Martinho Lutero, há quase 500 anos.

O papa disse que o "povo de Deus" espera "medidas concretas" sobre o tema. No fim dos quatro dias de conferência, a Santa Sé apresentou 21 propostas para deter a violência sexual, mas muitos não gostaram que o encontro tenha terminado sem um cronograma para os próximos passos.

As más notícias, contudo, continuaram a chegar. Dias depois do evento, a Justiça da Austrália condenou o cardeal George Pell a seis anos de prisão por molestar dois estudantes de um colégio católico em Melbourne, nos anos 90, quando ele era o arcebispo da cidade. Pell foi nomeado por Francisco para cuidar das finanças do Vaticano em 2014, um dos cargos mais altos da igreja. Ele não é o único auxiliar próximo de Bergoglio acusado de pedofilia. Há pelo menos outros quatro religiosos de seu círculo investigados pela mesma razão.


Os aliados de Francisco asseguram que Ratzinger nunca tomou parte nos ataques, nem permitiu que seu nome fosse utilizado pelos conservadores. "Tenho a convicção de que Ratzinger não tem nada a ver", afirma o padre Federico Lombardi, ex-porta-voz do alemão e diretor da Fundação Ratzinger, criada após a aposentadoria de Bento XVI. Ainda ativo no Vaticano, Lombardi serviu Francisco na mesma função nos três primeiros anos de seu pontificado.

Aos 91 anos, Ratzinger vive numa casa localizada na parte de trás da basílica de São Pedro, nos jardins das colinas do Vaticano. O imóvel, remodelado para atendê-lo, foi usado no passado como centro administrativo da rádio oficial da igreja e depois abrigou irmãs de clausura, que viviam trancadas ali (por quatro ou cinco anos) em retiro espiritual. "Sua condição é a de um senhor nonagenário. Não tem uma doença em especial, mas sua saúde requer cuidados", afirma Lombardi.


Sem conseguir tocar piano, uma de suas paixões, o papa emérito passa a maior parte do tempo numa cadeira de rodas, geralmente lendo ou rezando. Raramente ele deixa o imóvel, onde tem a companhia de quatro freiras que cuidam dos afazeres do dia a dia e do inseparável arcebispo alemão Georg Gänswein, que o acompanha desde os tempos de papado. Anos atrás, causou polêmica ao se referir à existência de dois papas, um emérito e outro em exercício, assunto explorado para mostrar as diferenças entre os dois.

Em meados de 2017, Gänswein esteve por trás de outra polêmica que agitou os bastidores da Santa Sé. Ele leu uma mensagem de Ratzinger escrita para o funeral do cardeal Joachim Meisner, um dos quatro autores da carta que questionava a doutrina de Francisco. O papa emérito disse sobre o amigo: "A coisa que mais me comoveu é que o cardeal Meisner viveu o último período da sua vida sempre na certeza profunda de que o senhor não abandona a sua igreja, mesmo que às vezes a barca é cheia, quase ao ponto de tombar".


O último período da vida do cardeal era aquele em que ele desferia ataques ao chefe da igreja. Muitos viram uma crítica de Bento XVI ao argentino, o que seu secretário pessoal negou, alegando se tratar de uma tentativa de instrumentalizar o papa emérito para ele ser uma espécie de anti-Francisco.


O padre Lombardi e o secretário Guzmán Carriquiry Lecour minimizaram a oposição interna a Francisco, ressaltando ser essa uma tradição do Vaticano desde sempre. Segundo o uruguaio, o que mudou é que agora as críticas têm maior projeção por causa das redes sociais. "Bergoglio recebeu sinais de respeito muito grande por parte do antecessor. São personalidades que têm noção de suas responsabilidades. Ratzinger sabe que sua eventual oposição afetará a igreja e a dividirá ainda mais. Nesse ponto, sua lealdade é absolutamente sincera", conta Politi.


Dentro e fora da igreja, o conservadorismo de Ratzinger é reforçado com lembranças de sua atuação nos anos 80 contra a Teologia da Libertação, grupo ligado à esquerda, e de seu passado ainda mais distante como integrante da juventude nazista. Este, no entanto, é um dos aspectos distorcidos pelos seus críticos. Como todo jovem alemão que viveu no país na segunda metade dos anos 30, ele foi obrigado a participar dos eventos do partido de Adolf Hitler. Depois, sua família tornou-se anti-hitlerista - um parente com deficiência mental terminou num programa nazista para exterminar os incapacitados.


"Há uma apresentação de Ratzinger que não corresponde à realidade", afirma Andrea Tornielli. "Ele foi apresentado e criticado com um clichê conservador que não lhe pertence. Do ponto de vista teológico, ele é mais complexo do que Bergoglio. Ratzinger chegou a dizer sobre a Igreja da Alemanha, considerada uma das mais ricas do mundo, que lhe faria bem ficar pobre e se livrar do poder. Francisco fala a mesma coisa." A terceira e última encíclica escrita por Bento XVI, em 2009, um ano depois da crise que abalou a economia mundial, discorre sobre a força do mercado financeiro, outro assunto frequente da pauta do argentino.

O padre Lombardi diz que o papado de Ratzinger, "um homem da cultura", foi voltado para os ensinamentos da doutrina católica. "Ele foi um tanto professoral. Já Francisco tem uma relação direta com a gente, fala muito da cultura do encontro, o diálogo entre os povos. Sua força carismática é em relação às pessoas, que o sentem mais próximo. Logo, a igreja está mais próxima."


O papa não faz política, não tem interesses econômicos nem se preocupa em atuar como um líder global, disseram três colaboradores próximos de Francisco entrevistados pelo Valor no último mês. Todos reconheceram, no entanto, que as circunstâncias da conjuntura mundial transformaram o pontífice numa espécie de "liderança moral".

Para o padre brasileiro Alexandre Awi Mello, levado para Roma por Bergoglio para dirigir o dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, sua liderança pode ser explicada pelos atuais líderes mundiais, que se destacam mais "pelas coisas negativas". Lombardi afirma que os políticos se importam com o argentino porque se deram conta de que ele é seguido e admirado - e não apenas pelos católicos.

"Bergoglio é sobretudo um pastor. Ele se define como um sacerdote. O surpreendente é que, sendo pastor, ele se converteu em líder mundial. Foi uma coisa imprevisível. Ele fala com as palavras do Evangelho, e elas ganham efetivamente uma dimensão política", responde Guzmán Carriquiry Lecour. "O estilo de Ratzinger é outro. Ele é acadêmico, tem uma personalidade delicada, diria até tímida."

A relação do uruguaio com o argentino remonta aos anos 80. Quando ainda era cardeal, o primeiro destino de Bergoglio quando visitava Roma era a casa dos Carriquiry Lecour. Ratzinger, que o nomeou em 2011 na Secretaria da Pontifícia Comissão para a América Latina, também compartilhava a sua mesa.

Na semana em que Guzmán recebeu o Valor, o jornal "O Estado de S. Paulo" noticiou que o governo de Jair Bolsonaro estava preocupado e monitorando o sínodo da Amazônia, a ser realizado em Roma em outubro, quando certamente receberá críticas da igreja às políticas em relação aos indígenas (e demais minorias) e à preservação da Amazônia. A atitude do governo Bolsonaro foi mal recebida pela igreja, que reclamou de ingerência - conforme manifestação feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Guzmán, visivelmente incomodado com o assunto, limita-se a dizer: "O papa respeita a autonomia política de cada país, assim como quer que cada país respeite a autonomia da igreja".

APRecorrendo ao Evangelho para tratar de temas espinhosos da agenda mundial, o papa Francisco fala sobre "nacionalismos conflituosos" e é voz contrária à atual política italiana

Recorrendo quase sempre ao Evangelho para tratar de temas espinhosos da agenda internacional, o papa fez referência em janeiro, durante uma audiência em Roma, à tendência mundial dos "nacionalismos conflituosos", "que erguem muros e se fecham à universalidade e aos encontros entre os povos". O tom explica por que muitos políticos o consideram um opositor.

Na Itália, Francisco é uma das principais vozes contrárias à política oficial do governo de fechar os portos do país para os imigrantes resgatados no mar Mediterrâneo - como ele também é crítico ao muro que o presidente americano Donald Trump quer construir com o México, com o mesmo objetivo de barrar a chegada de novos imigrantes.

Matteo Salvini, ministro do Interior e homem forte do governo italiano, líder da Liga, partido da extrema-direita e hoje a maior força política do país, já deixou clara sua discordância com Francisco ao se deixar fotografar (antes da formação do governo) com uma camiseta com a inscrição "Meu papa é Bento XVI".

Apesar de sua agenda progressista, o papa é sempre cauteloso na sua relação com a esquerda. Na crise da Venezuela, o pontífice tentou - até agora sem sucesso - um acordo entre governo e oposição. Com o recrudescimento da situação no início do ano, Francisco voltou a receber uma carta do presidente Nicolás Maduro com um pedido de diálogo entre as forças políticas. Em resposta, chamando o signatário de "senhor Maduro" em vez de presidente, Francisco deixou clara sua desconfiança nas reais intenções do líder venezuelano, ressaltando que Maduro nunca fez "gestos concretos" para dialogar com a oposição.

O caso de maior êxito em uma intermediação do pontífice talvez tenha sido na reaproximação política entre Cuba e EUA, em 2015, quando ele foi um importante articulador para o encontro em Havana entre Raúl Castro e o então presidente Barack Obama.

Segundo Guzmán Carriquiry Lecour, da mesma forma que há minorias conservadoras que atacam o papa, há "minorias progressistas que tentam se apropriar de suas mensagens", desvirtuando-as para fins políticos.


Amplamente utilizada por Francisco, a doutrina social da igreja, cujas primeiras bases foram escritas há mais de um século, ainda provoca celeumas e discussões que invariavelmente transbordam para o campo político. Um dos pontífices que formulou a doutrina - uma via católica e humanista entre o capitalismo e o socialismo - foi Pio XI, papa que chegou ao poder meses antes de Benito Mussolini, em 1922, e que teria no Duce um importante aliado.


Certas passagens do documento podem levar o leitor desavisado a atribuir sua autoria a Karl Marx ou Lênin: "Cada um deve, pois, ter a sua parte nos bens materiais; e deve procurar-se que a sua repartição seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social. Hoje porém, à vista do contraste estridente que há entre o pequeno número dos ultrarricos e a multidão inumerável dos pobres, não há homem prudente que não reconheça os gravíssimos inconvenientes da atual repartição da riqueza".


Para Andrea Tornielli, quem chama o papa de comunista ignora não somente a doutrina social da igreja, mas também a teologia e o Evangelho segundo Jesus Cristo. "Ou seja, quem repete isso é um ignorante", diz.

Chamando atenção para temas como a justiça social, o triênio "terra, teto e trabalho" e o que ele chama de "terceira guerra mundial aos pedaços", referência aos conflitos em diferentes partes do mundo, Bergoglio almeja sobretudo uma mudança comportamental. Ele já pediu a cardeais e demais autoridades do Vaticano para não agirem como "príncipes".

Numa das tantas declarações sobre a estrutura da igreja e a vida dupla de muitos religiosos e fiéis, o argentino sugeriu recentemente que é melhor ser ateu do que "um católico hipócrita". Entre os tantos diabos no caminho do papa, há também o da hipocrisia.



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